
“Compreender uma cidade significa, também, colher fragmentos.”
Bruno Giovannetti
De 7 março a 15 de abril, o Colégio Miguel de Cervantes é sede da exposição do fotógrafo Bruno Giovannetti.
Por: Tatiana Maria de Paula Silva|14 de março de 2016.
A inauguração da exposição em 5 de março, durante o evento do dia da integração da comunidade cervantina, contou com a presença do fotógrafo Bruno Giovannetti, da diretora-gerente, Lourdes Ballesteros, da diretora pedagógica, Amélia do Rosário Farré Salazar, da administradora Silvia Oliveira Santana Rizzi e de toda a comunidade cervantina.
Na inauguração, Lourdes Ballesteros agradeceu a presença de todos e explicou que, durante o período em que o Colégio será sede dos trabalhos de Bruno Giovannetti, os alunos estarão envolvidos em atividades interdisciplinares de análise e reflexão em torno do tema. “Olhares urbanos está dentro do eixo temático em torno da cidadania global que será desenvolvido no Colégio, de acordo com a proposta do programa de escolas associadas à Unesco. O Departamento de Artes do Colégio classificou as obras em temas como tipografia, o homem e a cidade, paisagem urbana, arte de rua e religiosidade para a realização dos trabalhos interdisciplinares com os alunos. Por intermédio das imagens, professores de toda as áreas desenvolverão atividades relacionadas à análise e reflexão sobre o tema”, comenta Lourdes.
A diretora agradeceu em nome de toda a comunidade cervantina a generosidade do fotógrafo em disponibilizar seus trabalhos ao Colégio e passou a palavra a ele, que também agradeceu aos presentes e explicou sobre o mote do seu trabalho, que retrata as mais díspares facetas, diretas e indiretas, da paisagem urbana.
Bruno citou Giulio Argan, conhecido historiador de arte que, muitos anos atrás, foi também prefeito de Roma: “Existe uma cidade de grandes estruturas – a cidade de pedra – que tem, necessariamente, a duração de anos e de séculos. E existe a cidade de um dia, que dá a imediata impressão de ser feita de imagens, de sensações, de impulsos mentais: a cidade que realmente vemos e que não é dada pela estrutura dos imóveis, mas pelos automóveis, pelas pessoas, pelas infinitas informações”.
Entender o mundo por meio da representação artística fotográfica
Vigas metálicas, cães de guarda, moradores de rua, o vendedor de algodão doce, telhados, novo e velho, moderno e antigo, homens-sanduiches*, o cardápio do café, Mafalda, a personagem internacionalmente conhecida. Semelhanças e diferenças na mundaneidade das grandes cidades são retratadas nessa coleção de imagens captadas pelo fotógrafo, que, segundo Bruno, acaba virando uma espécie de antropólogo espontâneo. “Na soma das imagens acabamos por delinear uma espécie de radiografia da realidade onde vivemos. A exposição quer ser, ao mesmo tempo, um incentivo a olhar com mais atenção e carinho o entorno do nosso cotidiano”.
A exposição reúne mais de 140 trabalhos sobre diversos aspectos do cotidiano urbano dessas duas megalópoles. Bruno explica que ela nasceu como uma coleção – sempre em andamento – de imagens que expressam a cidade e a sociedade num dado momento.
Do momento efêmero em que câmera captura um recorte da cidade, Bruno coleciona histórias, principalmente quando interage com os artistas ou moradores de rua. Para ele, as paisagens urbanas são decorrentes do modo de vida dos seus cidadãos.
Dentro da imensa quantidade de informações visuais dessas metrópoles, o fotógrafo explica que muitos são os estímulos para se fazer um recorte: “a ironia proposital ou, às vezes, criada pela casualidade, sobreposição de imagens, etc. A falta de sensibilidade, o desinteresse pela coisa pública. Algumas exceções são vistas, então, como gestos quase heroicos”.
Bruno acredita que as imagens podem localizar o cidadão dentro de uma linha do tempo. “Em um outdoor, por exemplo, é possível ver não apenas a mensagem explícita ligada ao produto, mas também o sistema de valores de uma determinada época”.
Para o fotógrafo, não existem cidades, existem sensações urbanas. Em suas palavras: “ao se perder entre a cidade de pedra e a cidade de um dia, o olhar atento escruta praças, ruas, fragmentos, colhe dados e recortes que formam um puzzle onde cada peça pode sintetizar e representar o todo. São os detalhes que marcam entre duas capitais, como essas em foco, peculiaridades e similitudes e que podem, como mostram um Walter Benjamin ou um Ítalo Calvino, ser centro de considerações e de análise mais minuciosas”.
* Pessoa que caminha pelas ruas com dois painéis publicitários, um no peito e outro nas costas.
É autor dos livros Arquitetura Italiana em São Paulo, Empresa das Artes, Ateliês Brasil, Artistas Contemporâneos de São Paulo, Empresa das Artes, Claudio Tozzi – Coleção Artistas Brasileiros, Editora da USP (Edusp) e Artistas Italianos nas praças de São Paulo – DBA.
Atualmente cursa pós-doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/USP com a tese Cemitérios Históricos de São P


