INSTITUCIONAL

Encontro com Luciana Alves

Palestra para colaboradores propõe reflexões sobre práticas escolares e o papel do currículo na construção de uma educação antirracista

Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 5 de junho de 2025.

No dia 3 de junho, o Colégio Miguel de Cervantes teve a honra de receber a professora Luciana Alves, doutora em Sociologia da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e orientadora educacional no Colégio Santa Cruz.

Luciana ministrou a palestra “Construindo o currículo antirracista: da sala de aula aos corredores da escola”. A atividade foi promovida pela Comissão ERER (Educação para as Relações Étnico-Raciais) do Colégio Miguel de Cervantes.

O encontro integrou a programação da reunião pedagógica e foi direcionado a todos os colaboradores — docentes e equipes administrativas.

Em sua fala, Luciana destacou que a educação para as relações étnico-raciais exige um compromisso contínuo e profundo com a transformação das práticas pedagógicas, institucionais e relacionais. Segundo ela, não basta trabalhar a temática da diversidade em projetos pontuais, como uma atividade sobre a África, por exemplo, se o racismo permanece presente — ainda que de forma sutil — nos corredores, nos espaços de convivência e nas relações entre alunos e funcionários. “Sem reconhecer a diversidade racial no cotidiano escolar, não há educação de qualidade para todos”, afirmou.

Para a palestrante, um currículo antirracista vai além do que está previsto nos documentos oficiais: ele se materializa nas escolhas pedagógicas diárias, nas interações e nas formas como os sujeitos são reconhecidos — ou não — dentro do ambiente escolar. A professora compartilhou relatos marcantes sobre como o racismo se manifesta de maneira silenciosa e persistente, impactando profundamente a construção da identidade de crianças e jovens negros. “Ninguém nasce negro ou branco; a gente aprende a ser a partir das relações sociais que vivencia e das assimetrias de poder que nos atravessam”, explicou.

Luciana também enfatizou a importância da escola como espaço ativo na construção da identidade racial dos estudantes. Ressaltou que esse processo precisa acontecer desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, e envolve tanto o reconhecimento positivo da diversidade quanto o enfrentamento das marcas do racismo estrutural. “Se a criança negra só aparece no currículo a partir do século XV, como escravizada, que possibilidade ela tem de se identificar positivamente?”, questionou, lembrando a necessidade de ampliar o repertório histórico, cultural e simbólico sobre os povos africanos e originários, para além da colonização.

Nesse sentido, a palestrante defendeu que a reparação histórica precisa acontecer também no plano simbólico e pedagógico, por meio da valorização de narrativas que foram silenciadas e da construção de uma escola onde todas as crianças se sintam vistas, representadas e respeitadas. “Podemos chamar isso de currículo afrocentrado, decolonial ou só currículo. O importante é tornar explícitas as nossas práticas antirracistas”, concluiu.

A palestra faz parte do programa contínuo de formação promovido pela Comissão ERER-Cervantes, criada em 2024 com o objetivo de fortalecer o letramento antirracista na comunidade escolar por meio de ações formativas, materiais representativos e escuta ativa. Em novembro do ano passado, Luciana já havia ministrado um encontro para a Direção e equipe de gestão do Colégio, contribuindo para ampliar a escuta e a reflexão institucional sobre o tema.