Um olhar psicopedagógico:
Muito além de aulas de História – A transcendência do trabalho educativo

Por: Marisol P Saucedo R. Lage – Psicopedagoga Institucional

Trabalhar ciências humanas é ter a possibilidade de viajar no tempo, deslocar-se para outro cronotopo, resgatar o legado cultural, a história da humanidade com todos os impasses, desafios, conquistas e, o principal, levar à (auto) reflexão sobre a presença do outro. É perceber que somos resultado de um processo sócio-histórico-cultural e que podemos e temos o direito de projetar e idealizar o futuro.

Mas como mobilizar os adolescentes a tal aventura com o compromisso de garantir a excelência acadêmica desenvolvendo a reflexão, a argumentação crítica e colaborativa permeadas com olhar ético e despidos de preconceitos e julgamentos?

Outro dia, passando pelos corredores da escola, me deparei com uma exposição com cartazes, fotos e maquetes com riqueza de detalhes, gráficos, peças de gesso, jogos de percurso… uma verdadeira curadoria pedagógica do 9º ano sobre a Primeira Guerra Mundial que revelava o rico processo de ensino-aprendizagem vivenciado pelos alunos e pelo professor e que despertava a curiosidade de todos que passavam  por lá e  nos convidava a resgatar na memória aquele pedaço da história humana que “estudamos” e nos autorizou a revisitar a nossa matriz acadêmica/pedagógica.

Alicerçada nas minhas lembranças, pude constatar o quanto o processo de ensino-aprendizagem tem avançado no sentido de enriquecer o processo de educação por meio das fontes históricas que são múltiplas e plurais, envolvendo diferentes linguagens, tais como: textos escritos, documentários, longas-metragens, fotografias e narrativas sobre os eventos ocorridos na Europa entre 1914 e 1918 que permitiram compartilhar experiências vivenciadas por personagens da história, construindo, dessa maneira, o conhecimento historiográfico.

Com base no material oferecido, analisado e discutido, os alunos criaram textos ficcionais, encenaram, expuseram fotografias, documentários, esculturas, maquetes, tabuleiros de jogos e diários que contextualizam e revelam sentimentos de quem viveu a Primeira Guerra Mundial, projetando nossos alunos no tempo e espaço remotos, ação essencial para o exercício da empatia.

Concebo um trabalho rico, orientado pelo professor Pedro Paulo Moreira Sales,   no qual os processos vivenciados pelos alunos do 9º ano permitiram construir significados coletivos e individuais.

Finalizo a minha reflexão pedagógica com as palavras de Jorge Larrosa e Walter Kohan que de algum modo ilustram a visão de educador  do século XXI: “…A experiência, e não a verdade, é o que dá sentido à educação. Educamos para transformar o que sabemos, não para transmitir o já sabido. Se alguma coisa nos anima a educar é a possibilidade de que esse ato de educação, essa experiência em gestos, nos permita liberarmos de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos, para ser outra coisa para além do que vimos sendo.” in SKLIAR, C. Desobedecer a Linguagem, São Paulo: Editora Autêntica, 2017.

Maquetes:

“Uma informação só tem sentido numa concepção ou numa  teoria.
Do mesmo modo, um acontecimento só inteligível se é possível restituí-lo em suas condições históricas, sociológicas …” MORAN, E. Educação e Complexidade: Os sete Saberes e outros ensaios, São Paulo, Editora Cortez, 2013

 

Escultura em gesso e jogo de percurso

 

 

 

 

 


Diários

“.. a leitura de mundo precede a leitura da palavra, linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.” Paulo Freire

 


Performance

“… brincar não é o aspecto predominantemente da infância, mas é um fator primordial no desenvolvimento.” (VYGOTSKY, 1978: 101), na adolescência e na fase adulta, o performar ocupa o lugar do brincar e possibilita o experimentar, projetar-se, criar repertório para vida.