SALA DOS PROFESSORES

Desenho Universal para a Aprendizagem – uma perspectiva de atenção à diversidade e inclusão

Por: Lícia Shirassu, Marisol Lage e Silvia Kocinas | fevereiro de 2021

Como parte da condição humana, desenvolve-se a capacidade de organizar tudo o que cerca o sujeito. Para entender e interpretar o mundo, criam-se categorias, constroem-se pré-conceitos e esquece-se de que nem tudo é homogêneo e pode ou deve ser classificado. Esquece-se de que a riqueza está justamente na diversidade, a qual se faz presente nas cores, nas flores, nos perfumes e, principalmente, na espécie humana.

Olvida-se que é na troca, no encontro, nas diferenças de ideias, experiências e vivências que existe a possibilidade de mudar, de transformar, de deslocar, de reinventar, de ressignificar.

Compreender que cada ser humano traz consigo uma história de vida, uma hipótese, uma leitura de mundo e, biologicamente, ferramentas diferentes para sobreviver e lidar com os desafios ao longo da vida é fundamental em qualquer âmbito da sociedade, principalmente para nós, educadores. Ter a compreensão de tais diferenças e funcionamentos diversos é descobrir o potencial e propiciar a autonomia de cada aluno, enriquecendo a todos com a diversidade, e esse é um grande desafio.

Tal perspectiva alicerça a visão de que a escola nunca foi homogênea; nela sempre esteve presente a diversidade, de forma que lidar com o ser humano é admitir que ele é singular. Pode-se estabelecer as metas, porém cada um as entenderá e chegará a elas no seu tempo e do seu modo. Cabe compreender tal fenômeno e promover espaços para que os estudantes desenvolvam repertórios e ferramentas da melhor maneira possível, valorizando as tentativas e validando cada etapa para que possam desenvolver mobilidade (LAGE, M. 2021 prelo)

De acordo com essa visão, o Desenho Universal para a Aprendizagem, doravante DUA, é um enfoque que possibilita melhorar e otimizar o ensino e a aprendizagem por meio da diversidade e da variabilidade dos aprendizes.

A concepção nasce de um conceito arquitetônico de meados dos anos 70, no qual um grupo de profissionais da área cria o denominado Desenho Universal, que tinha como objetivo repensar o design de ambientes de modo a torná-los acessíveis para o maior número de pessoas, sem a necessidade de reformas posteriores. Podemos citar como exemplo a construção de rampas no lugar de escadarias, propiciando espaços mais democráticos e acessíveis para todos.

Assim, por meio dessa compreensão, o Desenho Universal foi trazido para o âmbito educacional por um grupo de professores de Harvard liderados por David Rose, os quais estavam mobilizados pelo desafio de lidar com grupos cada vez mais heterogêneos de estudantes. Dessa forma, nasceu o DUA.

O DUA tem como pilares três princípios, desenvolvidos com base em estudos da neurociência e da educação, com o objetivo de proporcionar:

  • múltiplos meios de Representação (o “quê” da aprendizagem);
  • múltiplos meios de Ação e Expressão (o “como” da aprendizagem);
  • múltiplos meios de Engajamento (o “porquê” da aprendizagem).

Para cada princípio são elencados diretrizes e indicadores, os quais possibilitam a identificação de fortalezas e barreiras de aprendizagem, propiciando, com isso, flexibilidade (materiais didáticos e tecnologia) no processo de ensino-aprendizagem e promovendo, além de um ensino mais democrático e acessível, um fazer pedagógico em que cada estudante tem a possibilidade de monitorar o seu próprio processo, desenvolvendo a metacognição, elemento fundamental para a aprendizagem ao longo da vida.

Foto: Tatiana Maria de Paula Silva

        

Lícia Veríssimo S. Shirassu – Fonoaudióloga Educacional e Clínica, Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com atuação em Transtornos da Aprendizagem e Desenvolvimento de Linguagem. Atualmente trabalha no Colégio Miguel de Cervantes, sendo membro da equipe de Atenção à Diversidade e Inclusão na área de Fonoaudiologia. Experiência de formação contínua em Universal Design for Learning (Desenho Universal para a Aprendizagem – DUA), pelo CAST Institute – Massachussets (USA). Participante do grupo de estudos sobre DUA – América Latina.

Marisol Patricia Saucedo Revollo Lage – Doutoranda em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem LAEL/ PUC-SP. Mestre em LA pela mesma instituição. Possui especialização em Didática Bilíngue pelo Instituto Singularidades. Possui a especialização em Psicopedagogia, alfabetização en Biliteracy pela Center for Teaching for Biliteracy. Atualmente trabalha no Colégio Miguel de Cervantes, sendo membro da equipe de Atenção à Diversidade e Inclusão na área de Psicopedagogia. Experiência de formação contínua em Atenção à Diversidade e Inclusão pelo IB (International Baccalaureate) e Universal Design for Learning (Desenho Universal para a Aprendizagem – DUA), pelo CAST Institute – Massachussets (USA). É integrante do grupo de pesquisa LACE – Linguagem em Atividade no Contexto Escolar. Participante do grupo de estudos sobre DUA– América Latina.

Silvia Vinocur Kocinas  – Educadora, graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da USP, pós-graduada em Psicopedagogia pelo Instituto Sedes Sapientiae e em Neuropsicopedagogia pelo Instituto Faces. Atualmente trabalha no Colégio Miguel de Cervantes, sendo membro da equipe de Atenção à Diversidade e Inclusão na área de Psicopedagogia Institucional. Também realiza trabalho psicopedagógico em clínica particular. Experiência de formação contínua em Atenção à Diversidade e Inclusão pelo  IB (International Baccalaureate) e Universal Design for Learning (Desenho Universal para a Aprendizagem – DUA), pelo CAST Institute – Massachussets (USA). Participante do grupo de estudos sobre DUA – América Latina.