INSTITUCIONAL

CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE HERANÇA
 Massachusetts Institute of Technology’s (MIT) Global Studies and Language, em Cambridge, 2018 

Do dia 31 de maio a 3 de junho de 2018, a psicopedagoga Marisol P. Saucedo Revollo Lage e a professora Simone Migliari Seifert participaram da Conferência Mundial sobre o Português como Língua de Herança no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Global Studies and Language cidade de Cambridge, nos Estados Unidos. Também foram  convidadas para visitar o Colégio Dr. Martin Luther King, Jr. School  bilíngue: PortuguêsInglês.

O evento foi proposto pela entidade Brasil em Mente, uma organização cultural que, desde 2009, no exterior, estimula e promove a língua portuguesa e a cultura brasileira em diferentes contextos para educadores e pesquisadores interessados ​​no campo de estudos e práticas do português como língua de herança, e teve a participação especial da Dra. e phD Antonieta Megale com a palestra “A dimensão biográfica do conceito de repertório linguístico e sua implicação no Ensino de PHL”. A psicopedagoga Marisol começou a conferência apresentando o Colégio Miguel de Cervantes, localizado em São Paulo, Brasil, e que nasceu com o ideal e objetivo  de empresários espanhóis de difundir sua língua de herança, o espanhol, e sua cultura. Marisol acrescentou que hoje, além do espanhol como língua adicional, a escola inclui a língua inglesa no seu currículo, já que o programa de Bacharelado Internacional (IB) faz parte da proposta educacional, visando obter a mesma excelência e preocupação que há para com a língua portuguesa. 

A proposta linguística nesse contexto de educação bilíngue se baseia em uma perspectiva dinâmica, isto é, os idiomas espanhol e inglês, assim como a língua portuguesa, têm a mesma importância, comprometimento e excelência no ensino, promovendo uma formação integral, globalizada e cultural e preparando os alunos para o acesso às universidades espanholas ou outras universidades de países da UE que formam o Espaço Europeu do Ensino Superior.

A educação multicultural está presente no currículo escolar, nas celebrações e festas, onde os estudantes podem vivenciar aspectos culturais de diferentes lugares, por exemplo, a Hispanidad, Festa Junina, Halloween e até mesmo o dia da União Europeia.

De todas as celebrações culturais, a Feira do Livro é uma das mais importantes da comunidade cervantina, pois permite reunir objetivos educacionais em diferentes áreas, como o desenvolvimento socioemocional. Postula a psicologia que ler ficção, por exemplo, é a maneira mais eficiente de viver emoções que não fazem parte do nosso enredo. As personagens do livro não têm rosto, assim o leitor pode lhes emprestar o seu. Além disso, a leitura permite desenvolver repertório e, em última análise, experiências emocionais. Segundo a psicóloga Ligia Aratangy, é por meio da leitura que se desenvolve a capacidade de empatia, processo pelo qual é possível identificar-se com o outro e entender o que ele sente. Ela acrescenta ainda que “a principal consequência da falta de leitura é uma falha no desenvolvimento emocional, além do prejuízo na bagagem cultural”. 

Além disso, o trabalho com livros na escola permite tarefas criativas e colaborativas de forma interdisciplinar e estabelece contato com escritores de diferentes nacionalidades. Para ilustrar tudo o que implica trabalhar com a Feira do Livro e o compromisso com a língua de herança, o português, foi escolhido um dos projetos desenvolvidos e enviados a UNESCO em 2017. Tal projeto foi idealizado pela professora Simone Seifert, desenvolvido com professores de Música, Arte, Inglês, História e Geografia e intitulado Voo em Português – Aproximando mundos, encurtando distâncias: a necessária utopia de igualdade. Ele foi apresentado pela professora Simone a todos os participantes da conferência.

A educadora contou que criou o projeto tendo em vista a Década Internacional dos Afrodescendentes. Os alunos participaram de atividades e desenvolveram trabalhos que ampliaram o “voo em direção ao outro”, iniciado em 2016, quando estudaram aspectos socioculturais dos países lusófonos no projeto Voo em português. Essa atividade propiciou uma cuidadosa reflexão sobre a situação da população afrodescendente e foi provocada principalmente pelas narrativas de dois escritores muito especiais: o brasileiro Jorge Amado e o moçambicano Mia Couto. Simone encantou os professores presentes enfatizando que “precisamos, sempre, de mais histórias… e os livros, as músicas e as artes, em geral, são importantes professores.”

Tendo em vista essa premissa, as atividades foram desenvolvidas ao longo do primeiro semestre, em momentos diferentes, embasadas por leituras diferentes. O encantamento e a magia da África e da Bahia, muito presentes na realidade sociocultural brasileira, caminharam lado a lado com a situação de violação dos direitos humanos da população afrodescendente no Brasil e em Moçambique. Nesse sentido, nas aulas de Língua Portuguesa, nossos alunos leram as obras Capitães da areia, de Jorge Amado, e Estórias abensonhadas, de Mia Couto. Da leitura da obra do escritor baiano resultou o conhecimento de um Brasil quase desconhecido, já que há uma distância imensa entre as vivências de nossos estudantes em relação à luta cotidiana de crianças e jovens baianos, protagonistas da obra Capitães da areia. Já os contos da antologia Estórias abensonhadas proporcionaram um contato com as vivências moçambicanas reinventadas pela sensibilidade de Mia Couto, que esteve presente no Colégio durante a Feira do Livro e pôde vivenciar todo o processo vivido pelos alunos e professores envolvidos.

As atividades propostas pelos professores dos oitavos e nonos anos, apresentadas na Conferência Mundial de Língua Portuguesa, no MIT, estão disponíveis no site www.voo-em-portugues.com.br, onde também é possível ler as impressões dos alunos sobre sua participação nas atividades, as contribuições para o projeto e como isso contribuiu para sua formação como seres humanos mais empáticos e preocupados com a construção de um mundo mais justo, onde a diversidade é mais valorizada.

Foi uma experiência enriquecedora participar do evento mundial e motivo de grande alegria e orgulho compartilhar o trabalho que aborda e valoriza a língua de herança desenvolvido no Colégio Miguel de Cervantes e representar a todos os educadores da comunidade cervantina.

Referência Bibliográfica
ARATANGY. L. R. Desafios da Convivência. Editora Gente. 2a edição. São Paulo, 1998.
GARCÍA, O. Bilingual Education in the 21st Century: A Global Perspective. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2009.
GARCÍA, O.; FLORES, N. Multilingual Pedagogies. In: The Routledge Handbook of Multilingualism. Oxon: Routledge, 2012.
Política Linguística – Colégio Miguel de Cervantes, 2014