33ª Feira do Livro do Colégio Miguel de Cervantes – 29 de abril

Por: Tatiana Maria de Paula Silva |  2 de maio de 2016.

No terceiro dia da 33ª Feira do Livro, os estandes dos alunos do Infantil ao Ensino Fundamental deram um colorido maior ao evento. Os trabalhos realizados por meio da leitura das obras mostraram, mais uma vez, a profundidade e a assertividade da equipe de professores e o envolvimento dos alunos que, apresentando releituras artísticas e de pesquisa, demonstraram através da leitura o olhar crítico e o alcance das inúmeras interpretações que a literatura proporciona.

No dia 29, as principais atrações do dia foram o encontro com o premiado escritor Ilan Brenman, homenageado pelos alunos do 4º ano com uma apresentação musical, e o colóquio inaugural com o escritor Milton Hatoum e os escritores, ilustradores e cartunistas Fábio Moon e Gabriel Bá, também premiados.

Colóquio Inaugural: Milton Hatoum, Gabriel Bá e Fábio Moon
Dois irmãos e
Órfãos do Eldorado

Abrindo o colóquio, a diretora-gerente, Lourdes Ballesteros, deu as boas-vindas a todos e apresentou os autores. Lourdes comparou o gênio criador de Milton aos dos maiores escritores da literatura universal. Além disso, ressaltou que Gabriel e Fábio – ilustradores com obras traduzidas em diversos países, como Espanha, França, Itália e Estados Unidos – são artistas de talento incomparável.

A diretora destacou que o Colégio, por ser dotado de um caráter internacional, aproxima os alunos dos textos por meio de várias perspectivas e propicia o desenvolvimento de temas transversais. Por intermédio das obras dos autores, os alunos pesquisaram a imigração, o mito dos dois irmãos na literatura e cultura geral, ascensão e decadência do ciclo da borracha, a história da cidade de Manaus e os mitos indígenas.

Lourdes afirma que para preparar esse colóquio os alunos assistiram a vídeos, conferências e entrevistas. Além disso, ela convidou os autores para visitarem as paredes do “Mural do Conhecimento”, localizadas no prédio do Ensino Médio, e as obras gráficas produzidas pelos alunos. Em seguida, passou a palavra aos alunos Clara Gusmão e Piero Esposito, ambos do 3ºano EM, que apresentaram as biografias dos autores.

O colóquio começou com Milton, que agradeceu aos alunos que leram suas obras, o convite do Colégio e a honra de estar com os ilustradores Gabriel e Fábio, que fizeram, segundo ele, um trabalho de quatro anos que transcendeu o romance. Milton comenta que a história em quadrinhos ficou melhor que o romance, isto é, um trabalho de altíssimo nível e com resultado estético maravilhoso.


Fotos: Silvio Luiz Canella

Sobre a obra Dois irmãos, Milton falou que o primeiro grande desafio foi determinar o narrador ideal. “Eu tinha na minha mente um narrador que não fosse da elite, jovem e humilde, que seria filho de um desses irmãos. Minha primeira dificuldade era descobrir o tom dessa voz. Eu convivi com várias classes sociais na escola pública, de modo que a pirâmide social estava presente em minha sala de aula. Essa convivência foi fundamental na minha infância e juventude, pois ela fazia da escola um microcosmo da sociedade manauara. Eu quis montar esse narrador com base nessa experiência”, explica Milton.

Milton também falou sobre os ingredientes essenciais para a literatura, como conflitos e tensões fortes com personagens fora do prumo. Para ele, a literatura trabalha com os desequilíbrios e as paixões. “Eu procurei dramatizar o trágico de tal família, falar ao mesmo tempo do esplendor e da decadência da cidade onde nasci, trazer à ficção a personagem importantíssima no cenário brasileiro e tantas vezes ocultada que é a figura do índio, retratar a empregada que teve como modelo empregadas com as quais eu convivi na minha infância. A vida da Domingas é uma espécie de metonímia das muitas vidas das empregadas de Manaus”.

O escritor comenta que se baseia na Antropologia, na Sociologia e na Psicologia para construir as personagens das suas obras, tomando como referência os diálogos entre as várias culturas e os enigmas não solucionados propostos, que só podem ser resolvidos na imaginação do leitor. “Enquanto lê, o leitor está escrevendo seu próprio romance e imaginando a sua obra”, conclui.

Sobre Órfãos do Eldorado, o autor explicou que foi o livro mais desafiador que escreveu. Ele comentou que, apesar de ser uma obra encomendada, já tinha a história na mente, construída com base nos mitos que seu avô contava quando ele era jovem. Ele comenta que quis fazer uma novela e trabalhar o mito para transformá-lo em um drama humano.

Na sequência, Gabriel Bá comentou que fazer a adaptação do livro Dois irmãos foi uma tarefa difícil e demorada. O autor conta que ele e Fábio não queriam mais fazer adaptações depois de O alienista, mas que, após dois convites da editora e a leitura da obra, os dois decidiram enfrentar o desafio. “Quando nos convidaram para fazer Dois irmãos, nós sabíamos que o livro daria mais trabalho por ser uma história muito mais complexa, principalmente pelo estilo de narrativa. O Fábio já havia lido. Como o trabalho de escrever quadrinhos demora muito tempo e trabalhamos juntos, nós só fazemos aquilo de que os dois gostam. Então fui ler o livro, constatando que ele era realmente muito mais complexo, mais longo e muito difícil; mas esses eram os melhores motivos para fazer o livro, pois ele era um trabalho diferente e nos forçaria a sair da zona de conforto ao tentar transportar o estilo do Milton, com o vai e volta na narrativa, trabalhar com o narrador, com o drama familiar e com a história da cidade e do país”, explica Gabriel.

Para Gabriel, fazer a adaptação de obras como O alienista e Dois irmãos, além de ampliar o público leitor de quadrinhos, possibilitou uma visibilidade nacional do trabalho dos dois e os incluiu no circuito literário, principalmente após o Prêmio Jabuti.

Fábio reforçou que, segundo eles, a adaptação é uma forma diferente de apresentar uma história já conhecida, propiciando uma nova perspectiva sobre ela. “O leitor que gosta