33ª Feira do Livro do Colégio Miguel de Cervantes – 30 de abril

Encontro com Marcelo Rubens Paiva
Sobre as obras: Feliz ano velho e Ainda estou aqui

Por: Tatiana Maria de Paula Silva | 2 de maio de 2016.

Na conferência de encerramento da 33ª Feira do Livro, o Colégio recebe o escritor, colunista, produtor e diretor de teatro, Marcelo Rubens Paiva.

Marcelo iniciou sua conferência afirmando seu apreço pelo Colégio tendo em vista não só sua infraestrutura, mas também a importância que se dá à literatura, à história à cultura. Ele comentou a importância de Cervantes e Shakespeare para a literatura mundial, autores que influenciaram muitos escritores fundamentais para a história da humanidade; Shakespeare pelo teatro e Cervantes pelo romance.

O autor falou sobre sua vida, o acidente e a sua iniciação na literatura escrevendo contos, críticas e resenhas até a produção de Feliz Ano Velho, livro que o consagrou e marcou toda uma geração na década de 80. Ele comenta que planejou escrever um livro que não estivesse dentro das normas cultas, isto é, sem compromisso com o estilo de linguagem da literatura brasileira, que era engessada pelo rigor gramatical. O intuito era, portanto, buscar uma linguagem coloquial que desconstruísse a linguagem literária tradicional.

Marcelo também reforçou que escreveu o livro ao mesmo tempo em que elaborava a sua autobiografia, preferindo sempre se distanciar do drama familiar envolvendo a prisão, tortura e morte do seu pai. O autor manteve essa postura até as revelações sobre a morte do pai começarem a aparecer na Comissão da Verdade, em 2014. Nessa ocasião, o mistério envolvendo o desaparecimento do seu pai foi definitivamente revelado.


Fotos: Campagnoli Produções

Ele conta que a maior motivação para escrever Ainda estou aqui foi perceber que sua mãe estava perdendo a memória devido ao avanço do mal de Alzheimer, o que para Marcelo representava perder uma memória sobre a história do país. “Eu vi aquela memória se perdendo. Eu vi se perdendo, inclusive, aquilo que deixei de narrar anos antes, que era a história do meu pai. Eu senti que precisava escrever esse livro falando sobre as novas descobertas a respeito da morte do meu pai nesses 30 anos e, sobretudo, sobre a descoberta pessoal, uma grande revelação, que tive um dia: a maior heroína da minha família no combate à ditadura era a minha mãe, não o meu pai”, conta Marcelo.

Marcelo comenta ainda que o livro foi uma forma de externar muitas das histórias que estavam latentes e que, a seu ver, deveriam ser compartilhá-las naquele momento. “Fechei o ciclo que comecei. Eu não havia planejado encerrar com a história da minha mãe e sobre o dia da prisão do meu pai, o qual lembro minuto a minuto. Era um dia que eu precisava resgatar. Precisava contar detalhe a detalhe. Como escritor, cheguei ao momento de dividir isso. Estou muito feliz que essa obra tenha chegado às escolas, pois acredito que é o momento de falar e refletir sobre o Brasil e sobre a ditadura, sobre onde nós erramos e acertamos e sobre o que não devemos repetir. Acho que o Brasil tem muito a pensar no seu futuro, e esses livros, eu espero, estão aí para contribuírem de alguma forma”, conclui Marcelo.

A cobertura completa da 33ª Feira do Livro pode ser acessada no site oficial da Feira desenvolvido pelos alunos do Programa de Escrita Avançada: www.cmc.com.br/feiradolivro2016

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